Ansiedade | Cinco Sinais de que a Fronteira da Normalidade foi Rompida

Os transtornos de ansiedade são as condições mentais mais prevalentes no mundo. Em 2019, segundo a OMS, 301 milhões de pessoas, incluindo 58 milhões de crianças e adolescentes, sofriam com essas condições. Não é por acaso que a ansiedade está entre as principais queixas de quem busca acompanhamento psicológico ou psiquiátrico e uma das pautas que mais discutimos aqui.

Antes de abordarmos os quadros de ansiedade patológica, é fundamental compreender que a ansiedade é um estado mental destinado a preparar o corpo para uma ameaça. Isso resulta na intensificação do estado de vigilância, buscando deixar o indivíduo alerta (física e mentalmente) diante dos perigos.

A ansiedade ocasional é um aspecto normal e adaptativo do repertório emocional, ampliando a consciência e permitindo respostas rápidas a possíveis ameaças. Contudo, nos quadros de ansiedade patológica, o sistema de alarme é acionado na ausência de um risco imediato (ou mesmo quando o risco é insignificante), gerando experiências psicológicas (como tensão, preocupação excessiva e pensamentos negativos) e alterações fisiológicas (sudorese, tontura, aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos. Apesar da apresentação variada da ansiedade patológica, há alguns sintomas comuns entre os diferentes quadros. A seguir, apresentaremos cinco indícios que podem ajudar a identificar quando a ansiedade ultrapassa a fronteira da normalidade:

1. Alarmes Falsos: O "medo" intenso ocorre na ausência de sinais de perigo ou ameaça. É a provocação de elementos irrelevantes e superestimados (chamados alarmes falsos), que são encarados como nocivos.

2. Hipersensibilidade a Estímulos: Os sintomas ansiosos são desencadeados por estímulos (gatilhos) irrisórios, que não representam perigo real. Esses gatilhos são como um prenúncio de que o objeto temido se aproxima (muitas vezes isso ocorre de forma inconsciente). Cabe destacar que esses estímulos não são percebidos como nocivos por pessoas que não apresentam ansiedade clínica e estão em uma situação similar.

3. Recorrência: Existe uma perspectiva orientada para o futuro que envolve alerta constante e antecipação de ameaças ou perigos. O objetivo é deixar o indivíduo alerta e pronto para se defender. Isso gera um nível elevado de apreensão e pensamentos sobre uma ameaça potencial iminente, independentemente dessa ameaça ser concreta. Frequentemente isso culmina em estratégias de esquiva, fuga de objetos ou situações temidos e tende a ser persistente.

4. Prejuízo no Funcionamento Social: Como o foco do indivíduo é direcionado para identificar ameaças e se proteger, tarefas cotidianas, desempenho acadêmico e profissional tendem a ser prejudicados. Quando o alarme de luta e fuga é acionado, outras coisas se tornam secundárias, então o desempenho cai.

5. Disfunção Cognitiva: Pensamento caracterizado por superestimação de ameaça ou avaliação de perigo de uma situação que não é confirmada de forma alguma. Ou seja, o pensamento é distorcido (esse tópico foi abordado em outro texto). Os sintomas cognitivos mais observados são: preocupação excessiva e constante; medo extremo, seja de objeto ou situação em particular; sensação de que perderá o controle ou algo ruim vai acontecer; receio contínuo de ser humilhado; dificuldade de controlar pensamentos, imagens mentais ou atitudes; descontrole ou crise de pânico após situações difíceis; constantes crises de ansiedade; tensão, insônia, medo do constrangimento.

Além disso, é comum que durante as crises ocorram sintomas físicos, como por exemplo: respiração ofegante; coração acelerado (palpitações); dores no peito; dificuldade em falar calmamente; sensação de tremor; necessidade de roer as unhas; agitação em membros como pernas e braços; rigidez muscular; tontura; náuseas; desmaio; vômito; hipersensibilidade no paladar; boca seca; desequilíbrio dos pensamentos; desconexão dos ambientes (desrealização); braço dormente; suor frio.
Em suma, identificar quando a ansiedade ultrapassa a fronteira da normalidade é crucial para buscar o suporte necessário. Os sintomas mencionados – alarmes falsos, hipersensibilidade a estímulos, recorrência, prejuízo no funcionamento social e disfunção cognitiva – são indicativos de uma ansiedade patológica que impacta tanto o bem-estar psicológico quanto o físico. Se você reconhece esses sinais em si mesmo, não hesite em procurar auxílio especializado. Profissionais da saúde mental estão disponíveis para oferecer suporte, estratégias de manejo e orientações personalizadas, ajudando a restabelecer o equilíbrio emocional e proporcionar um caminho mais saudável para a vida. A busca por ajuda é um passo corajoso em direção à promoção da saúde mental e ao reencontro com o bem-estar.


Referências

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