Armadilhas da Mente | Foi Sem Querer Querendo

As decisões aparentemente irrelevantes são como "armadilhas da mente" que podem colocar as pessoas em situações problemáticas e dificultar o processo de mudança do comportamento. De forma simplificada, envolvem hábitos e condutas que, de alguma forma, conduzem ou facilitam a repetição do comportamento que se deseja modificar. Isso é frequente em pacientes em que o comportamento problema é altamente recompensador, como, por exemplo, a dependência de drogas (lícitas ou ilícitas), cleptomania, compulsão por compras, comida, sexo, exercício e internet, entre outras.

As decisões aparentemente irrelevantes envolvem deliberações cotidianas simples, às vezes ingênuas e que não são problemáticas se avaliadas de forma isolada ou superficial. No entanto, levam a situações estressantes ou estimulantes que reduzem a capacidade de controle e afetam a tomada de decisão. Decidir onde almoçar, qual caminho seguir, ir ou não a algum lugar, tomar ou não uma medicação, a que horas dormir, encontrar ou não um amigo, ir de carro ou de táxi, levar ou não o cartão de crédito, podem ser exemplos de decisões aparentemente irrelevantes.
Por um lado, o contexto gerado por essas situações expõe a pessoa a gatilhos que a tornam vulnerável emocionalmente, afetando o processamento cognitivo. Diante disso, a capacidade de tomada de decisão é reduzida, promovendo a ocorrência de comportamentos "automáticos", geralmente focados em obter prazer momentâneo e que posteriormente provocarão culpa, vergonha e tristeza, por exemplo. Por outro lado, é frequente que a pessoa use o contexto sobre o qual "não se tem controle", a priori, para justificar racionalmente que foi "levada pelas circunstâncias". Isso acontece porque geralmente as pessoas não estão conscientes desse processo e se dão conta apenas após uma avaliação retrospectiva, ou também em decorrência da autossabotagem.
O primeiro passo para lidar com essas armadilhas é reconhecê-las e entender qual o papel delas no processo de tomada de decisão. Isso possibilita entender os fatores que mantêm um determinado hábito e também planejar estratégias de "evitação defensiva", que nada mais são do que formas de desviar do primeiro elemento da reação em cadeia que resulta no comportamento que se deseja modificar (geralmente pessoas, hábitos ou situações). Entender o que mantém os comportamentos e assumir a responsabilidade de pensar a respeito das decisões tomadas é fundamental para prever e reverter uma "decisão aparentemente irrelevante" que pode implicar no fracasso do seu objetivo.
Enfrentar as 'armadilhas da mente' requer autoconhecimento, coragem e estratégias bem elaboradas. Ao compreender as nuances das decisões aparentemente irrelevantes, podemos desarmar essas ciladas, retomar o controle e construir caminhos mais conscientes. A psicoterapia se apresenta como uma aliada valiosa não apenas para superar transtornos mentais, mas também para aprimorar nossa compreensão pessoal e a qualidade das nossas relações, um passo de cada vez. Lembre-se, a psicoterapia não é indicada apenas para quem tem transtornos mentais, mas também para quem quer se compreender melhor e melhorar a qualidade das relações com as outras pessoas e consigo mesmo.

Referências

O tratamento da dependência química e as terapias cognitivo comportamentais: um guia para terapeutas / Organizado res, Neide A. Zanelatto, Ronaldo Laranjeira. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2013.

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