Transtorno de Acumulação: Quando a Dificuldade de Desapegar se Transforma em Doença

A acumulação excessiva de pertences pode indicar a presença de um transtorno sério chamado transtorno de acumulação. Este transtorno é caracterizado pela persistente resistência em se desfazer de objetos, independentemente de sua utilidade ou valor monetário. Pessoas que enfrentam esse desafio sentem uma necessidade intensa de guardar itens desnecessários, e a ideia de descartá-los causa sofrimento significativo. Em alguns casos, o hábito de acumular pode chegar a extremos, obstruindo o espaço, prejudicando a higiene e até mesmo interferindo no uso adequado da residência.

As justificativas para a acumulação muitas vezes estão relacionadas à percepção irreal de utilidade, valor sentimental e estético dos objetos. Jornais, revistas, roupas velhas, livros, correspondências, animais, entre outros. Infelizmente, esse comportamento pode levar à deterioração da saúde e do ambiente, causando angústia, vergonha, tristeza e isolamento social.
É essencial entender que os acumuladores são frequentemente pessoas mais velhas, e a maioria deles apresenta transtornos de humor ou ansiedade coexistentes, como depressão, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de ansiedade social. Embora muitos busquem ajuda profissional devido a essas condições, é vital reconhecer a necessidade específica de tratar o transtorno de acumulação.
A diferença entre a acumulação patológica e não patológica muitas vezes reside na gravidade, na motivação e no impacto que esses comportamentos têm na vida diária e no bem-estar geral. Algumas diferenças elementares são:

Transtorno de Acumulação
1. Persistência e Intensidade: No TA, a acumulação é persistente, intensa e vai além do que seria considerado razoável ou funcional.
2. Impacto Negativo: Causa sofrimento significativo e interfere nas atividades diárias, relações interpessoais e na funcionalidade geral da pessoa.
3. Falta de Organização: Geralmente, os objetos acumulados não estão organizados e podem prejudicar a higiene e o ambiente doméstico.
4. Resistência em Descartar: Existe uma resistência a se desfazer de itens, mesmo que sejam sem valor real ou úteis.
5.
Acúmulo não Patológico
1. Razão Funcional: O acúmulo não patológico pode ocorrer por razões práticas ou emocionais, mas não atinge níveis extremos.
2. Ausência de Sofrimento Significativo: O indivíduo não experimenta um sofrimento significativo em relação ao acúmulo e não há impacto negativo substancial em sua vida diária.
3. Organização Geral: Os itens acumulados podem estar razoavelmente organizados, não prejudicando a funcionalidade do ambiente.
4. Descarte Facilitado: A pessoa é capaz de se desfazer de objetos sem um apego excessivo ou resistência.
Em resumo, a diferença principal está na severidade do comportamento, no impacto negativo na qualidade de vida e na resistência persistente ao descarte que caracterizam o Transtorno de Acumulação em comparação com o acúmulo não patológico. O diagnóstico preciso deve ser feito por profissionais de saúde mental com base em uma avaliação abrangente do comportamento e do impacto na vida da pessoa.
O tratamento, geralmente, envolve a terapia cognitivo-comportamental e, em alguns casos, o uso de antidepressivos. Se você convive com alguém que enfrenta esse desafio, aborde a situação com empatia, evite julgamentos e ofereça auxílio para organizar e limpar os ambientes. Estimule a busca por um profissional capacitado, como um psicólogo ou psiquiatra, para orientação e tratamento adequado. A compreensão e o apoio são fundamentais para auxiliar aqueles que enfrentam o transtorno de acumulação em sua jornada para a recuperação.
Em suma, o transtorno de acumulação representa um desafio significativo que vai além da simples dificuldade de desapego. Este comportamento, muitas vezes relacionado a uma percepção irreal de utilidade e valor sentimental dos objetos, pode resultar em consequências sérias para a saúde e o bem-estar. A compreensão da complexidade dessa condição é crucial, especialmente considerando a prevalência de transtornos de humor e ansiedade em indivíduos afetados. Para aqueles que vivem ou convivem com acumuladores, a empatia, o suporte prático e a orientação profissional são passos essenciais em direção à recuperação e à construção de um ambiente mais saudável e harmonioso.

Referências

American Psychiatric Association. (2013). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (5ª ed.). Porto Alegre, RS: Artmed.

Por Dr. Felipe Ornell